Ir. Maria Antonieta Bruscato
Caríssimas irmãs, desejo mais uma vez manifestar-lhes a alegria de encontrá-las aqui no Brasil, nesta bela casa de oração. Um lugar muito apropriado para este nosso encontro. Aqui, nos próximos dias, viveremos a etapa “americana” do processo continental do redesenho das presenças; aqui estudaremos, refletiremos, discutiremos, projetaremos, sonharemos... Aqui, sobretudo, viveremos em constante atitude de contemplação ativa, totalmente abertas à voz do Espírito, certas de que, entrando neste continente assim diferente e no entanto uniforme nos desafios e nos valores que o constitui e exprime, o Senhor nos dirá que coisa devemos fazer.
Para ouvir a sua voz, devemos fazer calar os “rumores do profundo”, depor as preocupações que nos agitam, dar asas à esperança, ser plenamente disponíveis para deixar-nos envolver, provocar, “converter” por tudo aquilo que nos será comunicado e aprendido nestes dias, em espírito de profunda comunhão.
Gostaria, irmãs, que a experiência da comunhão marcasse profundamente este encontro, no qual somos chamadas a “redesenhar”, inspirada pelo “divino Pintor”, itinerários inéditos e partilhados para a vida e a missão.
Para um desenho providencial do Senhor, celebramos este importante evento no tempo pascal, enquanto aguardamos o Espírito «Amor eterno do Pai e do Filho», Aquele que nos ensina todas as coisas, que interpreta e esclarece as palavras que o Mestre continua a pronunciar na sua Igreja, a voltar-se para os seus discípulos e a nós, aqui, hoje.
Parece-me muito iluminativo, para o desenvolvimento deste nosso encontro, fazer memória daquilo que o Evangelho de João nos narra justamente neste dias. No longo discurso que Jesus dirige aos seus, antes de partir para o Pai, há uma expressão de fundamental importância para nós: «Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi, e vos constitui para irdes e dardes frutos e vosso fruto permaneça » (Jo 15,16).
O Senhor nos escolheu, escolheu exatamente nós. Como assim? O livro do Deuteronômio nos ajuda a entender: «O Senhor vos chamou, escolheu e enviou não porque sois mais numerosos do que outros povos – sois de fato o menor de todos os povos −, mas porque o Senhor vos ama» (Dt 7,7-8). Na raiz dessa eleição há um ato gratuito de amor.
Esse amor tornou possível a nossa resposta, não obstante todos os nossos limites, pobreza, inadequação.
Esse amor nos envolveu em um dinamismo de caridade que não conhece trégua: «Escolhi-vos e vos constitui para irdes e dardes fruto».
A “escolha amorosa” nos constituiu discípulas e missionárias. Impulsionadas pelo Amor, produzamos frutos de vida e de amor. O termômetro para medir a qualidade do nosso discipulado é a dimensão “missionária”.
Tudo isto coincide admiravelmente com as orientações da Conferência de Aparecida (2007), que convidou a Igreja toda (não apenas a americana ou latino-americana) a confrontar-se com o binômio “discípulos-missionários”, reencontrando o substrato do batismo e assumindo plenamente a alegre responsabilidade que dele deriva.
A Igreja resultante de Aparecida recomeça da missão, exprime uma forte tensão missionária e a urgência de crescer junto. Porque o discipulado e a missão se realizam apenas dentro de uma comunidade de discípulos ...
A verdadeira novidade de Aparecida está, portanto, na busca da comunhão em vista da missão. Como afirmou dom Anuar Battisti, arcebispo brasileiro de Maringá (Paraná), «… somos todos missionários, e a missão é fruto visível da comunhão que existe entre nós ».
Irmãs, a comunhão é o desafio que está na origem da nossa “história sagrada” e é o grande desafio de hoje, deste momento histórico, eclesial, de congregarão. Só do nosso empenho de comunhão pode brotar a renovação, também as vocações e reflorescer a missão.
Creio, pois, que a grande trajetória da qual partir nestes dias seja justamente a missão solidária, realizada em nome da comunhão. Sem ter medo, como escrevi na introdução da lectio sobre o continente americano, de acolher «também soluções frágeis e provisórias».
Irmãs, abandonemo-nos ao Espírito, deixemos que ele coloque «fogo no coração, palavras sobre os lábios, profecia no olhar» (Paulo VI). E não nos deixemos abater pelas dificuldades e pelos problemas. Não os supervalorizemos, mas os afrontemos com audácia, lucidez e humildade, justamente como fizeram as primeiras irmãs que espalharam a semente do carisma paulino neste continente, em meio a esta porção de humanidade que, hoje, como antes, tem necessidade de ser envolvida pela Boa Notícia.
Coragem, podemos já perceber muitos brotos de vida no horizonte.
Com este encontro concluímos a fase continental do processo pelo redesenho das presenças, iniciado nas Filipinas do continente Ásia-Pacífico (9-20 setembro 2009), prosseguindo com os encontros da África-Madagascar (Nairobi, 12-23 novembro 2010) e da Europa-Canadá/Québec (12-23 janeiro 2010).
Desejo dirigir um caloroso agradecimento a Ir. Eide, às irmãs do seu governo e desta casa por terem disposto tudo para o bom desenvolvimento deste encontro. Agradeço desde já Ir. Battistina Capalbo que facilitará os nossos trabalhos com competência e amor. Um agradecimento que estendo também às irmãs da Comissão encarregada - ir. Ana Maria Killing, ir. Natália Maccari, ir. Annamaria Gasser – e a quantas trabalharão, neste dias, “atrás dos bastidores”.
Levantemo-nos, irmãs, coloquemo-nos a caminho. Guiadas pela Palavra e pela Eucaristia, fortificadas pela comunhão entre nós, sustentadas pela potente intercessão de são Paulo, do bem-aventurado Tiago Alberione, de Mestra Tecla, entremos repletas de esperança no continente americano: aqui nos será dito o que devemos fazer.
Bom trabalho a todas!Ir. M. Antonieta Bruscato
superiora geral
São Paulo, 11 maio 2010
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